sábado, 5 de dezembro de 2009

A Carta do Sevinho

Por Edson Borges Vicente


Severino era um menino franzino e empalidecido. Ainda assim seus olhos, embaçados pelo sol escaldante de verão na Caatinga, brilhavam como raras gotas de orvalho sob os mandacarus. Naquele dia anterior à primeira ida para a escola, fizera tudo o quanto podia para quebrar a rotina de sua pacata vida naquele pacato lugarejo chamado Sertão Fundo. Deixara de usar sua melhor muda de roupas na missa dominical para apinhar-se na única sala de aulas da região, recém contemplada com um programa de alfabetização rural. Era seu primeiro dia de aula em seus nove anos de vida severina.
O maior sonho daquele garoto era escrever uma carta para seu pai que havia deixado a família há cinco anos para tentar a vida no Rio de Janeiro. Mesmo em remotos flashes, sua memória guardava a imagem e a promessa de que veria mudar os rumos de sua vida quando, no retorno dele com suficiente dinheiro ajuntado, fartos dias cessariam a fome de toda sua família.
Sevinho, como era chamado pelos seus colegas, sabia que o que a professora vinda da cidade trazia era muito mais do que rabiscos em papel e quadro de giz, era a oportunidade para ele abraçar o mundo e ser abraçado. Sabia também que o fato de seu pai ser analfabeto dificultaria muito conseguir um bom trabalho e juntar o dinheiro sonhado. Não fossem as leitoras e redatoras de cartas apostos na Central do Brasil, sequer receberia as correspondências enviadas desde que ele partira e não fosse o dono da mercearia, único alfabetizado do lugarejo, nem mesmo as tais cartas seriam lidas.
 Mas seu sonho estava se realizando, estava agora em uma escola. Toda a precariedade do lugar não abatia o menino que atribuía grande valor ao aprendizado e, com seu impoluto pensamento, não enxergava as inúmeras imperfeições que ali existiam. Olhos e atenção voltados para aquela jovem que dedicara sua vida a ensinar, Sevinho nem sentiu mais fome, nem sede e, durante as quatro primeiras horas de aula de sua vida, sentiu-se gente. Voltou pra casa com os mesmos olhos embaçados de outrora, mas com o resquício de um brilho diferente do anterior, já não raro como o orvalho, mas cotidiano como a luz implacável das proximidades do equador, intensa e com força contínua.
(Texto concorrente no concurso literário Brasil de A a Z da Litteris Editora, 2013).

sábado, 21 de novembro de 2009

Geografia do bairro

Publicado em www.culturani.blogspot.com -  quarta-feira, 11 de novembro de 2009
por Fernanda Bastos da Silva





Nova Iguaçu, a cidade que nasceu às margens do rio e que renasceu abraçando a ferrovia, está entrando em sua terceira geração: a da rodovia”. Essa é a afirmação de Edson Borges Vicente, 26 anos, geógrafo recém-formado e morador do bairro Cabuçu. Ele dedicou os cinco anos e meio em que esteve na graduação na Universidade do Estadodo Rio de Janeiro – UERJ – a estudar sua cidade natal, especialmente seu bairro. Edson, que gosta de ser chamado de geoeducador, já apresentou seu trabalho para a comunidade no Simpósio de Educação de Cabuçu de 2008 e disponibilizou na internet parte do artigo que escreveu, chamado ‘Nova Iguaçu, Cidade mãe: do nascimento de Iguassú à gestação de Iguaçu Nova em Uma abordagem geográfica’.

culturani– O que incentivou o senhor a estudar a cidade de Nova
Iguaçu e, principalmente o bairro Cabuçu, do qual quase nada é falado?

Edson Borges– Fui a primeira pessoa do meu bairro a ingressar em uma universidade pública e acho um dever meu aplicar o conhecimento que adquiro em meu lugar de vida, que está passando por intensas transformações que interferem na dinâmica de toda a Baixada. Além de ser um prazer, é mais fácil, pois posso vê-lo todo dia.

culturani – Explique um pouco esse seu ingresso na universidade. Foi a partir disso que você começou a estudar a cidade?

Edson Borges – Fui aluno do Pré-Vestibular para Negros e Carentes de Cabuçu – o PVNC. Antes eu estudava na escola técnica Visconde de Mauá da Faetec de Marechal Hermes. Estudava Eletrotécnica e queria ser engenheiro eletrônico. Só passei a conhecer o meu bairro e me interessar pelas ciências humanas – geografia e história – quando
conheci o PVNC. Hoje sou professor e coordenador e ensino um pouco do que aprendi aos jovens do meu bairro, inclusive o que aprendi sobre nossa cidade.

A cidade está indo para onde as rodovias irão: para a região sudoeste nas URGs de Cabuçu e Km 32, onde gigantescos empreendimentos imobiliários estão sendo realizados, apostando em rodovias que ainda não existem, mas já estão no Plano Diretor da cidade e nos planos do Governo do Estado como o Arco Rodoviário.

culturani– Você afirma que Nova Iguaçu está entrando em sua terceira fase e que esse é o seu objeto de estudo. Quais então seriam as outras duas e como você estudou sobre elas?

Edson Borges- Os pesquisadores da Baixada sempre destacam as duas fases de desenvolvimento que a cidade de Nova Iguaçu passou: a da antiga Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguassú, que passou a ser chamada Vila de Iguassú, nas margens do Rio Iguassú, e a da Ferrovia, quando o centro foi transferido para o Arraial de Maxambomba e a recém-nascida cidade passou a ser chamada de Nova Iguaçu. Existem trabalhos significativos do IPAHB (Instituto de Pesquisas e Analises Históricas e de Ciências Sociais da Baixada), além da tese de doutorado do professor Manoel Ricardo Simões, conhecido como Breguelé.

culturani– Essas pesquisas sobre a cidade falam alguma coisa sobre essa tal terceira geração de Nova Iguaçu e, se não falam, o que o levou a acreditar nisso?

Edson Borges– Professor Breguelé acredita que a terceira fase é a da indústria. Nova Iguaçu já foi engenho e a cidade da laranja e hoje é a cidade dos cosméticos. Mas não podemos comparar o tipo de doce que comemos com o tipo de fogão onde se faz o doce. Falamos da cidade às margens do rio e às margens da ferrovia. O diferencial do meu trabalho é acreditar que uma nova geração estaria se desenvolvendo, como um “embrião” de uma ‘Nova Nova Iguaçu’, ou melhor, uma ‘Iguaçu Nova’. Eu falo da cidade indo para onde as rodovias irão: para a região sudoeste nas URGs de Cabuçu e Km 32, onde gigantescos empreendimentos imobiliários estão sendo realizados, apostando em rodovias que ainda não existem, mas já estão no Plano Diretor da cidade e nos planos do Governo do Estado como o Arco Rodoviário.





culturani– Então você acredita que o centro da cidade mudaria de novo?

Edson Borges- Acredito que estamos passando por um processo de mudanças, mas é cedo para fazer afirmações dessa natureza. O que acho certo é que Nova Iguaçu não tem mais para onde crescer. Ao norte para na Reserva de Tinguá, a leste e a oeste a cidade esbarra nas emancipações e ao sul, o centro já está estrangulado pelo crescimento desordenado. Já a sudoeste existem imensas terras vazias. Os novos empreendimentos estão trazendo gente de outros municípios e pode vir a se transformar em um novo sub-centro, com dinâmica própria, mas as forças políticas continuam no centro.

Acredito que estamos passando por um processo de mudanças, mas é cedo para fazer afirmações dessa natureza. O que acho certo é que Nova Iguaçu não tem mais para onde crescer.

culturani– Sabemos que foi recentemente construído um parque aquático em Cabuçu e hoje estão fazendo um imenso condomínio ao lado do parque. Esses empreendimentos são os responsáveis por todas essas transformações ou existem outras coisas a destacar sobre essa área?

Edson Borges– Tanto o parque aquático Paradiso Clube quanto o Condomínio fazem parte de um megaprojeto chamado Cidade Paradiso. Esse projeto, inicialmente chamado de ‘Iguassú Nova’, está sendo construído em uma fazenda de Eucaliptos com dimensões de uma cidade para cerca de 150 mil habitantes. Eu assisti desde a derrubada do primeiro eucalipto até a atual finalização do primeiro condomínio – o Cidade Paradiso, com umas 1800 casas. Mas existem outros projetos habitacionais, além de um parque industrial. Essa não é a única fazenda gigantesca dessa região. Temos outra fazenda Cabuçu ao pé da Serra e a fazenda Marapicú, entre outras, todas com importância histórica significativa e que são alvo de especulação fundiária hoje.

culturani– Conte-nos sobre as tais rodovias que ainda não existem, mas que serão construídas.

Edson Borges– A região sudoeste de Nova Iguaçu fica entre três rodovias muito importantes: a Rio São Paulo - Dutra -, a antiga Rio - Santos e a Avenida Brasil. Além disso, está a distâncias parecidas da Capital do Estado, do pólo Gás-Quimico e Petroquímico de Duque de Caxias, da cidade portuária de Itaguaí e da industrial Volta Redonda. É uma região estratégica. Perto de lá passará o já citado Arco Rodoviário, e ainda será margeada pela Avenida Santa Cruz, onde passavam os trilhos da Linha Velha (ligando a Dutra na altura de Austin à Rio - Santos) e a Estrada de Mato Grosso, que contorna a fazenda até a Lagoinha. Por dentro dela passará a Avenida do Oleoduto. Isso sem contar com extensão da Via Light e da construção de uma avenida às margens do Rio Cabuçu. Hoje a RJ 109, a Avenida Abílio Augusto Távora, conhecida como Estrada de Madureira, ainda é a principal. Para a outra Fazenda Cabuçu, ainda temos a antiga estrada Cabuçu-Queimados, que também dá na Dutra.

Quem quiser conhecer os trabalhos do geoeducador pode acessar
www.geoeducador.xpg.com.br/ pensando e clicar na guia “Artigos Resenhas
Resumos”. Lá existem outros textos com o mesmo tema. Interessados
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Edson Borges– A região sudoeste de Nova Iguaçu fica entre três rodovias muito importantes: a Rio São Paulo - Dutra -, a antiga Rio - Santos e a Avenida Brasil. Além disso, está a distâncias parecidas da Capital do Estado, do pólo Gás-Quimico e Petroquímico de Duque de Caxias, da cidade portuária de Itaguaí e da industrial Volta Redonda. É uma região estratégica. Perto de lá passará o já citado Arco Rodoviário, e ainda será margeada pela Avenida Santa Cruz, onde passavam os trilhos da Linha Velha (ligando a Dutra na altura de Austin à Rio - Santos) e a Estrada de Mato Grosso, que contorna a fazenda até a Lagoinha. Por dentro dela passará a Avenida do Oleoduto. Isso sem contar com extensão da Via Light e da construção de uma avenida às margens do Rio Cabuçu. Hoje a RJ 109, a Avenida Abílio Augusto Távora, conhecida como Estrada de Madureira, ainda é a principal. Para a outra Fazenda Cabuçu, ainda temos a antiga estrada Cabuçu-Queimados, que também dá na Dutra.

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sábado, 24 de outubro de 2009

Um Edson*, um poeta e um conselho



por Edson Borges Vicente

Jovem repórter faz homenagem ao poeta Jorge Cardozo, presidente do Conselho Municipal de Cultura


De onde vem a força do poeta
Sobrevivendo em tempos obscuros
Tentando escapar do calabouço
e ver nascer o sol da liberdade?

Talvez venha do espírito de união
Da arte que o palco da vida ensina
Expressada nos espaços operários
Nas caras e nas bocas da cidade

E como imaginar tamanho feito
De ver raiar a luz da esperança
E das palavras tristes do poeta
Surgir a firme voz da liderança

E ao fim sentir que todos temos vida
Que a arte não está no cativeiro
Repousa sobre o velho e o moço
Desperta no coração da criança

Talvez se não morresse o tal menino
Ainda estivesse presa, a poesia
E a força e a garra do poeta
Fosse tal qual agulha no palheiro

Melhor é resistir à repressão
Seguir a cultura da ousadia
Viver do jeito que mais vale à pena
Conselhos de um poeta conselheiro

* Referência ao estudante Edson Luiz Lima Souto, assassinado em 1968, aos 18 anos, em uma operação de repressão, durante a ditadura militar (ver matéria 'Conselho do poeta')

sábado, 17 de outubro de 2009

Professor: ser ou não ser


Por Edson Borges Vicente em 15 de outubro e 2009


Era manhã fria embora o inverno estivesse arrumando as malas. Estava toda a turma assentada em filas indianas, como era de costume, já que a densidade demográfica era de quase uma criança por metro quadrado naquela sala de aula de colégio público da periférica cidade metropolitana de Nova Iguaçu. A escola ficava no bairro periurbano de Cabuçu, onde a proposta construtivista já tinha chegado aos ouvidos dos professores, mas a disposição em círculo da era fisicamente inviável.
A quinta série tinha novo nome: sexto ano do Ensino Fundamental e também novo habitante: Tiago Fernandes, garoto franzino cujo sobrenome espanhol havia sido herdado em tempos em que José Schazneger poderia ser considerado genuinamente brasileiro em uma família pobre da Baixada Fluminense.
Entre um mapa e outro o professor de geografia falava da importância do estudo na vida das pessoas e com veemência associava a escolaridade às oportunidades de bom emprego e dignidade de vida. Certo momento, enquanto o mestre falava da relação dos meios de comunicação com o conhecimento dos lugares, como filmes e documentários televisivos e dos textos e imagens de jornais e revistas, Tiago interrompeu:
- Professor, o senhor viu um monte de professores apanhando na televisão?
- Quando você viu isso? - Indagou o professor.
- No jornal. Passou uns policiais batendo nos professores lá na cidade – afirmou o menino.
Para evitar a mudança de rumo da aula o professor desconversou:
– Eles já pediram desculpas.
- Pediram nada – retrucou o garoto –, o cara do jornal disse que era por que os professores ganham muito pouco pra dar aula. Menos que prefeito, vereador e presidente – completou.
- Isso é verdade - respondeu o docente. – Mas isso não quer dizer que ele trabalhe menos. O professor é um profissional de suma importância para a sociedade. Todos, antes de serem ‘alguém na vida’, passaram primeiro pelo professor: presidente, prefeito, vereador e também os médicos, engenheiros e advogados – explicou.
- Eu também ouvi isso na televisão. Tem professor pra criança, pra adolescente e pra adulto, né! Até pro juiz tem professor. Deve ter que estudar muito pra ser professor, não é professor? – perguntou Tiago.
- É claro – não exitou o educador –, você estuda nove anos no Ensino Fundamental, três no Ensino médio e mais um no Curso Normal para dar aulas até a quarta série / quinto ano. Para dar aulas do sexto ano, como a turma de vocês, e para o Ensino Médio / Segundo Grau, tem que cursar uma faculdade e estudar mais quatro anos.
- Nossa! - espantou-se o jovem – Isso tudo? E pra dar aulas pros médicos e pro juiz? Questionou o aluno.
- Bom, dependendo da faculdade (que é onde os médicos estudam), o professor tem que estudar mais um ou dois anos na especialização, dois anos no mestrado e mais quatro no doutorado.
- Chega! – implorou o moleque – Mais pra dar aulas pra quinta série só precisa dos quatro anos na faculdade e pronto, certo? Indagou-lhe.
- Não necessariamente. Muitos professores estudam mais que isso. Na verdade, o professor nunca pode parar de estudar. Ele precisa sempre se atualizar – complementou o mestre.
Um silêncio se fez na sala...
Após um tempo e alguns cochichos ecoando entre as paredes da sala 10, Mariana – menina espevitada e falante – se intrometeu no papo que já rendia dez minutos da aula.
- Eu também soube que os professores apanharam. Mas soube no rádio. Eu gosto de rádio pra ouvir música, sabe! - continuou... – na verdade eu gosto mesmo é de pagode, mas minha mãe ouve musica internacional, ‘da antiga’, e colocou na JB que de vez enquanto tem jornal e ai...
- Já chega! - gritou Fernanda – a encrenqueira da sala. O que não tinha de corpo tinha de marra – eu vi uma foto no jornal. Meu pai não compra jornal sempre, mas ele pára na banca da praça pra ler as capas penduradas. Quando eu estou com ele é ‘um saco’, tenho que esperar. Eu vi em uns três jornais diferentes – concluiu.
Percebendo a ânsia dos pequenos o professor tentou trazer a discussão para o âmbito do tema estudado e interrompeu a discussão dizendo:
- Estão vendo como é necessário estudar? Ler jornal, assistir TV e ouvir rádio são formas de comunicação e a Geografia também utiliza-as nos seus estudos.
Gilson, um moleque que só sentava no fundo da sala e vivia a comer biscoitos e mastigar com a boca aberta comentou, num tom sarcástico:
- Estudar pra ser alguém na vida, blá-blá-blá... Todo mundo já sabe dessa história. Até o salário do professor saiu no jornal: seisentos reais. E, no final, ele ainda tem que pagar a passagem do bolso dele - enfatizou.
Um espanto sucedido de mais um silêncio na classe.
- Meu irmão não estudou e ganha mais que isso – afirmou Gilson - Ele trabalha de camelô e nem paga passagem. Os motoristas deixam ele entrar pela porta de trás. Quando ele vende picolé na praia ele ganha até gorjeta dos turistas – acrescentou o pequeno.
Sem saber o que fazer o professor tentou persuadi-lo informando que esse salário baixo é pago pelo estado, mas que há municípios que pagam bem e dão a passagem, mas a euforia era geral.
- E ainda apanha da polícia – lembrou Tiago.
- Minha professora da quarta série trabalha pra prefeitura de Nilópolis, onde eu morava, e também reclama do salário – acrescentou Fernanda.
- Eu ouvi na rádio que o presidente quase não estudou e o dono do salão de barbeiro perto da casa da minha tia virou vereador. – complementou Mariana.
Antes que o mestre pudesse interferir, Tiago perguntou:
- Alguém aqui tem coragem de estudar a vida toda pra ser professor?
Bate o sinal e, na correria, esvai-se pelo ar aquela conversa.

Brincando de ser cidadão

Brincadeiras simples que dependem apenas de um pouco de 'dignidade'.




Por Edson Borges Vicente - Geoeducador (2008)


Quase cinco anos pesquisando a Baixada Fluminense me concederam alguns poucos, mas pra mim importantes, conhecimentos sobre essa área tão amada e odiada, tão valorizada (culturalmente) e relegada ao desleixo das lideranças.Esse paradoxo – bom / ruim – paraíso / purgatório sempre encanta e mistifica o sentido da (re)criação da História e das estórias percebidas por aqueles que ousam entender um pouco desse povo, desse território e desse lugar.Desde a nostalgia dos tempos de Iguaçu Velha, com seus marcos histórico-culturais (Fazenda São Bernardino, Cemitério dos escravos, Porto de Iguassú) até a revolta da chacina, das epidemias de dengue, do vergonhoso IDH (Índice de Desenvolvimento humano), muitos temas florescem quando resolvemos escrever sobre a Baixada.
Dentre essa gama de fatos, casos, fotos e causos, Nova Iguaçu se destaca enquanto fonte de criação, desenvolvimento e “retalhação” de identidades. Sem dúvida, essa amada cidade é o berço de grande parte das que hoje compõe a Baixada Fluminense e fonte de inspiração de inúmeros cientistas sociais, historiadores, geógrafos aventureiros desbravadores do conhecimento local / regional.
E a primeira coisa que se pensa para iniciar uma exposição de um dado conhecimento é em explicar os primórdios, desvelar o começo de tudo... Nesse sentido, um resgate histórico é sempre bem vindo, pois parece que há uma linha do tempo contínua, inabalável e certa tal qual o positivismo clássico nos ensinou. Digo, porém, que nem sempre o “começo” é o caminho mais certo pra se “começar”, que quando tratamos de identidade, de temas sócio-espaciais (pois tenho que puxar brasa pra minha sardinha de geógrafo), é importante passear pelos: fim, começo e meio; É justo ser trans-temporal, trans-escalar, ter a sensibilidade para perceber os tempos e os espaços simultaneamente.
Peço licença com atraso para embriagar-me com essa filosofia não vã, pois decidi iniciar uma série de artigos que tratam do tema: identidade sócio-espacial de Nova Iguaçu, ou seja, almejo refletir sobre a história e a geografia de minha amada cidade em uma perspectiva da identidade do povo com a cidade e com os bairros e as transformações que vem ocorrendo recentemente. Meu foco principal é a URG Cabuçu (que compõe bairros como Cabuçu, Três Marias, Laranjeiras, Valverde, Marapicu, etc). Meu acompanhamento da turma A do Projovem Cabuçu nesses últimos meses de 2008, em decorrência da participação de minha noiva Fernanda Bastos e sua integração à Escola Agencia de Comunicação, contribuíram para elevar meu desejo por também participar desse processo de (re)descoberta da identidade do meu bairro, realimentando o engajamento da pesquisa que venho desenvolvendo e que se insere numa lógica parecida.
O passo inicial seria voltar ao passado tratando da colonização da Baixada pelos portugueses, destrinchando os fatos que se sucederam até o desenvolvimento da Grande Vila de Iguassú, as mudanças causadas pela ferrovia e a ascensão de Maxambomba até elevar-se a Nova Iguaçu, perpassando os tempos até chegar à configuração atual de nossa cidade, com nossos dilemas atuais e nossas perspectivas para o futuro. Acontece que, um momento me chamou a atenção, um momento que tive a sorte de registrar e que desviou meu pensamento para o hoje, mudou minha trajetória de análise e me fez refletir a partir de um retrocesso, invertendo as lógicas.
Um ponto em um universo me fez parar, apreciar um ou dois minutos um momento histórico que será lembrado mais tarde como, talvez até, um marco. Uma mudança nos processos de formação identitária dos bairros que vem passando nos últimos dois anos, por um processo de mudança espacial e social. Trata-se das obras de infra-estrutura que tem mudado a paisagem e a identidade da população com os bairros. O paradoxo começa a tender mais pro lado da paixão e afirmação com o lugar e cada vez menos identificando-se com sua rejeição. As pessoas estão em processo de elevação da auto-estima de sua identificação com seus lugares de vida, num fenômeno chamado de “Topofilia” (paixão pelo espaço termo criado pelo Geógrafo oriental Fu tuan). Cresce o numero dos que se orgulham de dizer que “moram em Cabuçu”.
Há uns quatro anos (2004), iniciei uma pesquisa sobre o Projeto Iguaçu Nova (Atualmente chamado “Cidade Paradiso”). Na época, especulava-se a construção do Parque Aquático Paradiso Clube em Cabuçu e nem de longe se tinha a noção (por parte dos “cabuçuenses”) da magnitude das transformações que o projeto geraria no bairro. Um parque aquático, que, na verdade, seria o embrião de uma mini-cidade para aproximadamente 150 mil pessoas era inimaginável, utopia, motivo de piada. Quase ninguém tinha esperança de melhorias em, pelo menos, dez anos uma vez que Cabuçu já havia décadas de abandono por parte do poder público, resultando na degradação dos poucos pontos de lazer (como a praça) que existiam.
Imagens de crianças brincando de barquinho em poças d’água, descalços à beira de valas negras, largadas ao descaso sempre foram fáceis de captar. Em minha experiência na Assistência Social do município com crianças em risco social, quando estive à frente do PETI (programa de Erradicação do Trabalho Infantil - pólo Cabuçu) e conheci de perto, em meio à precariedade, a criatividade dos pequeninos, não cheguei a imaginar que uma transformação espacial provocaria uma mudança tão radical nos hábitos das crianças, na brincadeira das crianças.
Porém, diante dos nossos olhos (meus e de Fernanda) em um passeio descomprometido estava uma transformação em curso, talvez uma realização de um sonho (da criança ou mesmo de seus pais), a possibilidade de uma brincadeira que só depende de uma coisa: asfalto. De certo que uma brincadeira – andar de patins – é impossível de ser realizada na lama, em terrenos esburacados e pedregosos, como se configurou desde sempre, a grande maioria das ruas de Cabuçu. E esse gesto simples, essa brincadeira – andar de patins – demonstrou ser muito mais do que uma brincadeira, mas de uma ação cidadã. Poucos dias após a finalização do asfaltamento de uma das ruas da primeira etapa das obras em Cabuçu, aquela criança pode não ter compreendido, mas estava diante de um momento histórico, de um marco histórico, de uma mudança de hábitos. E a expectativa de que isso se universalize no bairro ficou à mostra, mexendo com os sonhos dos que passavam naquele momento e que esperam ansiosamente serem alcançados pelo direito o qual aquela criança estava usufruindo, o de brincar de ser cidadã.

sábado, 3 de outubro de 2009

Provas do ENEM ''vazadas' disponíveis para baixar

Atenção Geovestibulandos de plantão.
As provas do novo ENEM que seriam aplicadas no último fim de semana (03 e 04 de agosto) 'vazaram'. Para desviar a atenção ao erro cometido o MEC resolveu usá-las como 'simulado' pelos inscritos. Para tanto as mesmas foram colocadas à disposição para Dowload.
Abaixo estão disponíveis os endereços dos arquivos .pdf do exame.

provas do dia 03 Clique aqui
Provas do segundo dia Clique aqui

A previsão para a nova data do ENEM 2009 é para os próximos 45 dias
Continuem se preparando e boa sorte
Geoeducador

Resgatando o Jóvem Reporter - nº 1

Histórico de Matérias de Edson Borges Vicente e Fernanda Bastos da Silva publicadas no blog www.jovemreporter.blogspot.com da Escola Agência de Comunicação da Secretaria de Cultura de nova Iguaçu.


Árvore da paz - postada em 30/01/09
Tamarineiro é o refúgio do maratonista de Cabuçu
por Fernanda Bastos da Silva
fotos de Edson Borges Vicente
Luiz Carlos Machado Ponciano, 35 anos,mais conhecido como "Maratonista de Cabuçu", é tido como louco pela comunidade de Cabuçu. Muitos pensam que ele é inacessível, um excêntrico, que não gosta de falar com ninguém.

Ele vive na Fazenda Cabuçu, importante marco histórico do bairro em que mora, onde começa a estrada que vai dar em Queimados. Adora receber as pessoas na sua árvore.
Conversa com elas com surpreendente lucidez e saúde. Sabe que as pessoas o veem como um louco, mas não se importa. Também não se incomoda quando tentam tirar fotos do seu lar.
Luiz é um sonhador, com uma história marcada por sofrimentos que começaram na conturbada relação com o pai. "Fugi de casa ainda menino, porque meu pai me batia muito", lembra ele. Foi morar então em um "casarão" próximo ao conjunto Rosa Branca II. Apesar da fuga, ainda tem contato com as quatro irmãs: Simone, Márcia, Lídia e Rita.
Luiz estudou no "extinto Colégio Elvira Leite", em Mesquita, tendo cursado até a antiga 4ª série do primário. Abandonou a escola devido a uma sucessão de brigas, que atribui ao preconceito que as pessoas "Antes que começasse a ser visto como um encrenqueiro, preferi sair."

Serra do VulcãoDesde então se julga um incompreendido pela sociedade. Tem muita vontade de reiniciar os estudos, de trabalhar e, literalmente, correr e voar atrás dos sonhos que não se perderam. Vocação para maratonista, realmente ele tem. Além disso, gostaria de ser saltador de parapente e asa-delta. "Conheço algumas pessoas que praticam esse esporte na Serra do Vulcão."


Simpático e às vezes carismático, ele recebe ajuda para se manter, alimentar e vestir. Mas ele distingue os "que o ajudam" e os que apenas o desprezam. Ele não "mora" na árvore. A árvore é uma companheira que lhe traz paz assim como seu cachorro, ambos amigos inseparáveis. A árvore é um pé de tamarindo de aproximadamente 30 metros que também proporciona uma visão panorâmica. "Muita gente deve ter mim, por estar em um lugar lindo e

com muito verde", orgulha-se.
A árvore também traz o frescor da brisa da serra nos dias muito quentes. É uma morada, uma fiel companheira e um hobby. No topo da

árvore, ele colocou um banquinho feito de caixas de madeira e uma bandeira de panos coloridos, quase todos vermelhos. "Subo esses 30 metros em dois minutos", diz ele. Para proteger-se da chuva, ele pretende colocar um toldo bem no topo.


Pista de atletismo
Outro pouso de descanso do maratonista é atrás do Posto de Saúde de Cabuçu. Em um quartinho pequeno ele guarda seus pertences, doações e o que consegue comprar com seu trabalho. "De vez em quando, ganhou uns trocados capinando, limpando e roçando a beira da estrada de Madureira", diz ele.

Luiz tem uma particular fixação pela estrada de Madureira. "É minha pista de atletismo", afirma. Percorre-a incansavelmente todos os dias, indo do KM 32 ao Centro de Nova Iguaçu. De vez em quando faz um pit-stop na torre de Furnas, na altura do Jardim Laranjeiras. ”Crianças, não façam isso em casa!", aconselha.

Seu idílio com a natureza pode ter um fim a qualquer momento, pois já chegou a seus ouvidos que a área da fazenda pode ser invadida a qualquer momento. Com receio de que a construção de novas casas avance sobre sua árvore, Luiz sugere um ato político: “Temos que criar uma lei proibindo o corte da minha casa."

Beijos e boa leitura.

sábado, 26 de setembro de 2009

Aula de Lingua Estrangeira

Como se fala “O Professor do Estado do RJ” em várias línguas

Por Edson Borges Geoeducador

El Magico – Espanhol

Faz de R$ 550,00 por mês um salário suficiente para sobreviver

The Michael Jackson – Inglês

Consegue prender a atração de milhões de alunos numa única sala de aula. Para tanto Faz várias prezepadas com o material didático disponível

Lê Dejavu – Francês

Vive do passado onde a profissão era respeitada e honrada. Era dona de um status de liderança e intelectualidade perante à sociedade.

Lo Biscatonne - Italiano

Precisa trabalhar em GLP, dupla função e fazer biscates aos fins de semana e aos feriados para complementar a renda e conseguir pagar a passagem que não recebe do stado

Takumtudu Numtemnada – japonês

Explica a importância de ler mas não pode comprar livro, a importância da boa alimentação mas só pode comer no Garotinho; o valor das novas tecnologias mas não tem computador com internet rápida, o valor da cultura mas não dá pra ir ao teatro

La Wolkswagem – Alemão

Só pode comprar produto barato e quando pode: Carro: Fusca; Tênis: Olimpikos; Calça e camisa: Sai de Baixo; Relógio: Tecnos; Cd: Pirata

Kara Pálida – Tupi

Devido ao excesso de trabalho e a má alimentação, seu nome foi dado pelo pagé (governador) da tribo dos Karadepau

Ariska Akara – Chinês

Nas “comunidades carentes” se vê constantemente diante de situações perigosas e é alvo de várias ameaças de morte.

Mandem sugestões de nomes em outros idiomas!!!

Geoeducador